sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Na oposição, PPS é o segundo partido que mais cresceu desde 2002


DEM foi o partido que mais perdeu filiados desde 2006

Cristiane Agostine, de Brasília

No segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o DEM foi o partido que mais perdeu filiados em todo o país: 38,1 mil. Foi o único da oposição que reduziu o número de integrantes. Da base de sustentação do governo Lula, o PP também perdeu apoio, de 12 mil filiados. DEM e PP têm raízes na Arena, partido que sustentou os governos militares.
A mudança de nome do PFL para DEM e a reestruturação da direção da legenda, em 2007, não renderam ao partido um crescimento significativo de filiados. Em 2008, o DEM obteve pouco menos de uma centena de novos integrantes, mas não reverteu a tendência de queda registrada no segundo mandato de Lula. Para o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), a oposição "vive um momento de dificuldade", mas não deve alterar o discurso: "Não vamos mudar. Quem tem de mudar é o PT."
PSDB e PPS, que compõem com o DEM a oposição ao governo federal, cresceram, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O aumento de filiados dos dois partidos foi registrado não só no segundo mandato de Lula, mas também no primeiro. Desde que o presidente Lula foi eleito, no fim de 2002, os tucanos ganharam mais de 113 mil integrantes e o PPS, 108,7 mil.
O PP, ao contrário da maioria dos partidos da base aliada ao governo, perdeu filiados desde o início do governo Lula: foram 155 mil, do fim de 2002, quando o presidente já tinha sido eleito, até novembro de 2009. A queda foi concentrada no primeiro mandato de Lula, quando 143 mil pessoas saíram da legenda.
No segundo mandato do petista, o PMDB ganhou pouco mais de 1,1 mil filiados. O partido aderiu institucionalmente ao governo e ampliou sua participação nos ministérios. Com isso, os pemedebistas reverteram a redução de seus filiados registrada no primeiro mandato. Durante todo o governo Lula, até novembro de 2009, o PMDB foi o partido que mais perdeu filiados: 176 mil.
Dirigentes do PP, do DEM e do PMDB citam os mesmos argumentos para tentar explicar a queda do número de filiados: recadastramentos feitos pelos partidos "limparam" dos registros os que já morreram e não foram suficientemente atrativos para trazer novos integrantes.
No caso do DEM, dirigentes citam que o partido perdeu quadros quando deixou de ser PFL, por deficiência no recadastramento dos filiados e na campanha de filiação. Os números do TSE, no entanto, já indicavam a tendência de queda desde o fim do governo Fernando Henrique Cardoso. "O PSDB não perdeu tantos filiados porque comanda colégios eleitorais importantes, como São Paulo e Minas Gerais", comentou Aleluia. O presidente do PP senador Francisco Dornelles (RJ) disse que a redução não é preocupante, já que o partido continua sendo o segundo maior, atrás apenas do PMDB.
O partido que mais cresceu desde outubro de 2002 foi o PT: a legenda informou ao TSE ter ganho 417 mil filiados. O número pode ser ainda maior, já que a Justiça Eleitoral registra que o PT tem, atualmente, 1,246 milhão de filiados e dados fornecidos pelo partido indicam que a sigla tem 1,35 milhão. Durante o governo Lula, o PT fez uma intensa campanha de filiação.
Os dados mais recentes do TSE, de novembro de 2009, indicam que o PSDB tem mais filiados no Nordeste do que o PT: 22,69% dos tucanos estão na região contra 21,07% dos petistas. No Sudeste, a situação é inversa e o PT tem 46,66% e o PSDB, 40,52%. O DEM tem quase 30% de todos os filiados no Nordeste.

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A FALTA DE UMA OPOSIÇÃO

Marco Aurélio Nogueira


Não poderia ser mais melancólico o final do ano político. Em meio ao foguetório e às confraternizações habituais, oculta-se um quadro sem brilho, pobre, desqualificado, que não promete nenhum bom augúrio.
É um quadro curioso, que intriga precisamente porque não sugere nenhum indício de ameaça à estabilidade política ou de algo que esteja pondo em risco a democracia no País. Se nada ameaça a legalidade política, se tudo parece indicar que continuaremos a viver democraticamente, a assistir ao revezamento regular dos governantes e à eleição sem traumas dos parlamentares, por que persiste este clima de indiferença e pessimismo com relação à política? Será que é porque tudo parece estar bem - ou muito bem, como pensam alguns - que ninguém no País se mostra civicamente comprometido, interessado em participar das decisões nacionais ou mesmo decidido a brigar para eleger os melhores representantes políticos?
Pode-se associar a isso ao menos uma dupla preocupação. Por um lado, se a política não funciona bem, não envolve nem compromete os cidadãos, aumenta o risco de que a cidadania não consiga se manter ativa e organizada, pressionando por seus direitos e vigiando os governos. Como poderá ela manifestar suas aspirações e lutar para garanti-las? Como serão formados os consensos que nortearão as escolhas dos governantes? Por outro lado, a inoperância da política pode significar um obstáculo a mais para os planos futuros da sociedade, tanto quanto para as promessas e os compromissos anunciados pelos governantes. Mesmo o tão aclamado e acalentado desenvolvimento ficará sob risco, e isso para não lembrar das expectativas de reforma social e melhoria da distribuição de renda, operações que são eminentemente políticas e dependem de forma crucial de consensos que somente a política pode produzir.
A sucessão de escândalos, a corrupção convertida em prática cotidiana, o baixo nível dos debates e a ausência dramática de propostas integradas e factíveis para governar o País são a ponta de um iceberg que hoje aprisiona todo o campo político nacional. Não há partido que escape dele. Depois do caso Azeredo, em Minas, foi a vez do caso Arruda, no Distrito Federal, amplificado com os boatos de que novas revelações estariam prestes a atingir políticos de outras unidades da Federação. Ou seja, ligando os fios ao mensalão de 2005, aos vários pequenos casos que a ele se seguiram, à indigência do Congresso e à opacidade programática dos partidos políticos, o resultado é que a sujeira e a mediocridade contaminaram o sistema inteiro.
Dada a variável tempo, o prejuízo acabou localizado: afetou a medula das oposições, tirando delas aquele sussurro "ético" que poderia se converter num dos eixos do discurso com que disputar o pleito de 2010. Ou seja, o que já era ruim ficou péssimo. E as oposições chegaram ao fim do ano em situação de miséria política e programática, sem discurso, sem propostas, até mesmo sem candidatos e lideranças consensuais.
Quando se fala em oposições, fala-se em PSDB, DEM e PPS, partidos de caráter e dimensões distintas, mas que vêm falando linguagem semelhante e afinada.
Como articular coisas tão diferentes? Quem comanda, quem define os conteúdos, qual o papel de cada parceiro dessa operação? A "frente" oposicionista não responde a essas questões. Não é comandada por ninguém, não tem definições programáticas e não fala outro dialeto que não o anti-Lula, com pitadas improdutivas de frustração e udenismo moralista. Define-se como centro-esquerda, mas de esquerda não tem nada, nem sequer uma retórica. É algo que intriga, especialmente quando se lembra que o PPS é herdeiro do PCB e o PSDB se considera expressão da social-democracia, ou seja, são continuadores de tradições repletas de glórias e identidades, goste-se ou não delas. 2010 será um ano novo se esses partidos honrarem suas tradições.
Uma oposição sem discurso e sem coerência não deveria ser vista como objeto de desejo da situação. Pode ser que agrade a alguns setores governistas ou a parte da cúpula que conduzirá a campanha de Dilma Rousseff, pois é, afinal, um obstáculo eleitoral a menos. Mas é uma tragédia para a democracia e para a sociedade, especialmente porque deixa parcelas importantes da população sem um norte e reforça o clima de unanimidade que, ao não corresponder à realidade, funciona como um elixir de apatia e desinteresse. A ausência de uma oposição vigorosa não é boa para os governos em geral e muito menos para aqueles que se seguirão à era Lula, pois os despoja de "consciência crítica" e os deixa sem qualquer tipo de freio ou contraponto factível.
O ano só não terminou perfeito para a situação porque perfeição não existe. Não há como negar que o governo Lula abre 2010 em posição de vantagem, fortalecido pelos escândalos do último bimestre, pela alta popularidade do presidente e pelas previsões de que 2010 trará consigo crescimento econômico e mais benefícios sociais. Isso forma uma conjunção astral terrível para as oposições, roubando delas quase todas as fichas. Em nome do que se baterão os candidatos contrários a Dilma? A ladainha moralista ou gerencial, a denúncia do "assalto petista ao Estado" e as acusações de populismo serão inócuas, sobretudo se não forem apresentadas com um mínimo de razoabilidade e suporte factual.
Do lado governamental há, é claro, os riscos inerentes a uma aliança com o PMDB, a conduta mercurial de parceiros pesados como Ciro Gomes, a ruindade intrínseca das falas triunfalistas e maniqueístas tão usuais, a dificuldade que o PT terá de superar o lulismo, dar cara própria à sua candidata e qualificar seu discurso como força reformadora.
Se o PT e os demais partidos conseguirem sacudir a poeira e ganhar consistência, 2010 estará salvo. Se fracassarem, continuaremos na mesma velha e boa toada de sempre.
Bom ano-novo a todos.
Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp e-mail: m.a.nogueira@globo.com

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