sábado, 2 de julho de 2011

Morre o ex-presidente Itamar Franco, em São Paulo

Política

Morreu aos 81 anos, acometido de pneumonia aguda, estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O suplente Zezé Perrela (PDT) assumirá a vaga no Senado

Carlos Graieb, com reportagem de André Vargas
Foto de formatura de Itamar Franco (sem data) - Reprodução

Itamar Franco (1930-2011)

Presidente entre 29 de dezembro de 1992 e 1º de janeiro de 1995, o político mineiro assumiu o cargo após a renúncia de Fernando Collor. No comando de um governo desacreditado, autorizou o Plano Real, que venceu a inflação e lançou as bases para os mandatos de Fernando Henrique, Lula e Dilma
O ex-presidente Itamar Franco, de 81 anos, morreu na manhã deste sábado, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele foi hospitalizado em 21 de maio, quando os médicos diagnosticaram uma leucemia. A presidente Dilma Rousseff ofereceu o Palácio do Planalto para o velório, como é praxe no falecimento de ex-presidentes.
Devidamente adaptado, o verso de seu conterrâneo, o poeta Carlos Drummond de Andrade, poderia servir de epígrafe à carreira política de Itamar Franco: “Vai, Itamar! ser gauche na vida.” Desprovido de qualquer carisma, dono de um topete aborrascado, que fazia a alegria dos cartunistas, e um tanto ranzinza em sua mineirice simplória, ele parecia ser a pessoa errada no lugar errado quando assumiu a presidência da República, em 29 dezembro de 1992, na esteira de uma crise sem precedentes: o impeachment de Fernando Collor de Melo, de quem era vice. Em 25 meses no poder, Itamar contribuiu de maneira inesquecível para o anedotário político, ou advogando o relançamento de um carro ultrapassado, o Fusca, ou se transformando no único chefe de estado do mundo fotografado em público ao lado de uma mulher sem calcinha. Mas, para retomar o poema de Drummond, o anjo que o protegia, mesmo que torto, era anjo. E fez com que, por justiça, seja preciso atribuir a esse improvável presidente viúvo e namorador muitos dos méritos da fundação do Brasil atual, de economia estável e democracia consolidada. Da coragem e da necessidade de suas decisões nasceram as bases para o sucesso de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma.

Parte de um governo que desmoronou por causa da corrupção, Itamar Franco pôde cumprir o papel que a constituição lhe atribuía e assumir a presidência porque os escândalos da “república de Alagoas” jamais respingaram sobre ele. Empossado, conseguiu devolver à normalidade um país mergulhado na insegurança e ainda sobressaltado pela memória recente do regime militar, articulando um governo de coalizão com as principais forças partidárias. Itamar não transigiu nas questões éticas. Em 1993, demitiu seu amigo, braço-direito e ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, por causa de uma suspeita de corrupção na confecção do orçamento. Inocentado, Hargreaves foi reconduzido à pasta três meses depois. Essa lição nunca foi repetida.

Em 1995, ao deixar Brasília, dois dias depois da posse de Fernando Henrique, seu ministro da Fazenda, declarou-se satisfeito: “Combati o bom combate e guardei a minha fé. Cumprimos o nosso dever. Saio orgulhoso de ter tido uma transmissão que o país há muitos anos não assistia: fraterna, amiga e, sobretudo, democrática”. Desde a República Velha um presidente não elegia o sucessor.

Outro grande mérito de Itamar foi lançar o plano Real, em 27 de fevereiro de 1994. Não é a paternidade intelectual do plano, obviamente, que pode ser creditada a esse político que pouco entendia de economia. Mas foi ele quem insistiu para que Fernando Henrique Cardoso (que notoriamente preferia continuar no governo como chanceler) assumisse o ministério da Fazenda. Preenchida a pasta, Itamar deu ao seu titular autonomia para montar uma equipe e implementar as mudanças que poriam fim ao flagelo da inflação colossal. Se "a habilidade executiva número um é escolher as pessoas certas e colocá-las nas posições certas", como diz o guru da liderança Jim Collins, Itamar agiu de forma impecável. E tinha razão em se mostrar magoado por não receber todo o crédito que, corretamente, julgava merecer. “Pensavam que o matuto aqui ia chegar fazendo bobagens. Achavam que a inflação ia disparar. Não é o que está acontecendo. O diabo não é tão feio quanto parece”, lembrou pouco antes de passar o governo a FHC, o ex-ministro que chegava à presidência surfando a onda de bonança do Real.

Itamar Franco nasceu em 28 de junho de 1930. Até sua mineirice era um pouco gauche: ele veio ao mundo a bordo de um navio de cabotagem que seguia do Rio de Janeiro para a Bahia, e foi registrado em Salvador. Formado em engenharia civil, tentou alçar voo na política aos 29 anos, mas não se elegeu vereador, pelo antigo PTB, em sua cidade, a mineira Juiz de Fora. Em 1962, tentou o cargo de vice-prefeito e perdeu de novo. Com o início da ditadura, a desistência da vida política não seria um demérito. Porém, foi aí que o Itamar mostrou quem poderia vir ser.

Filiado ao MDB, foi eleito prefeito de Juiz de Fora em 1968 e reeleito em 1972. O salto veio dois anos depois, quando renunciou para chegar ao Senado, na histórica vitória da oposição sobre a Arena, partido dos presidentes militares. Renovou o mandato em 1982, desta vez pelo PMDB, e foi um ardoroso defensor do derrotado movimento Diretas Já, que pregava a volta das eleições presidenciais. Nem seu temperamento, mais caprichoso que o recomendado para a política mineira, fez com que perdesse espaço. O falecido presidente Tancredo Neves, de quem foi aliado e adversário, dizia que Itamar conseguia guardar os ódios na geladeira.

Na primeira eleição direta para presidente, em 1989, deixou o Senado para compor, como vice, a chapa azarona de Fernando Collor de Mello (PRN). Vitorioso, Collor sequer completou três anos no governo. Em outubro de 1992, o impeachment do titular abriu as portas para que o vice assumisse o comando.

Em 1998, três anos após deixar a presidência, Itamar foi eleito governador de Minas Gerais. Concorreu ainda a uma vaga no Senado em 2006, mas só garantiu uma cadeira em 2010, pelo PPS. Enquanto Sarney, Collor, Lula e FHC se mantêm como figuras de proa no Senado ou em seus partidos, Itamar foi o mais discreto entre todos os ex-presidentes. Manteve esse comportamento até o final.

Ele foi internado em 21 de maio para tratamento quimioterápico da leucemia. O ex-presidente desenvolveu uma pneumonia durante a internação. Segundo boletim divulgado nesta sexta-feira pelo hospital, o senador estava sendo tratado com corticoesteróides em "altas doses". O boletim informava também que o tratamento surtiu efeito e exames apontavam "remissão completa" da leucemia. Ainda assim, ele não resistiu e sua morte foi anunciada na manhã deste sábado.
 

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

FHC elogia Dilma, e PT esquece ''herança maldita''

Em comemoração por seus 80 anos, Fernando Henrique enaltece carta enviada a ele pela presidente; petistas trocam bordão de Lula por legado positivo

Andrea Jubé Vianna - O Estado de S.Paulo


BRASÍLIA


Suprapartidário. FHC, Temer e Sarney: no Senado, ex-presidente recebeu homenagens de políticos de várias legendas
Foi em clima suprapartidário, com direito a reconhecimento público do PT, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou ontem, em Brasília, a série de homenagens programadas pelo PSDB para celebrar a passagem de seus 80 anos completados no último dia 18. Depois de o presidente da Câmara, o petista Marco Maia (RS), tê-lo saudado como "um homem de bem, comprometido com o Brasil e com os valores do nosso povo", foi FHC quem elogiou a presidente Dilma Rousseff pela carta enviada na passagem de seu aniversário. Mas sugeriu a Dilma que dialogue mais com o Congresso.
O homenageado declarou-se "muito feliz" com o gesto de conciliação da presidente que, na carta, o reconhecera como um político que "contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica" no Brasil. "Muito mais que um gesto político, foi um gesto para dizer: olha somos todos brasileiros, em alguns pontos temos de nos entender", disse ao discursar.
Em meio à plateia eclética que lotou o auditório Petrônio Portela do Senado Federal, estavam sete governadores, dois ministros do Supremo Tribunal Federal (Ellen Gracie e Gilmar Mendes), e dois ministros do governo Dilma: Nelson Jobim (Defesa) e Garibaldi Alves (Previdência Social). Também homenagearam FHC o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e dirigentes de vários partidos da base governista e da oposição.
Armistício. "Esta festa não é partidária; é de amizade e de confraternização", disse o ex-presidente tucano, ao relatar que, diante de tantos elogios, quando no Brasil só se costuma falar bem de alguém depois de sua morte, chegou a perguntar a Deus se ele já havia morrido. O único tucano que fugiu deste tom ao final de sua fala de homenagem foi o ex-governador José Serra.
Em um discurso emocionado sobre a trajetória de vida do amigo há 46 anos, Serra debitou o Plano Real à "obstinação e persistência" do ex-presidente que tem "alma tolerante com os outros e com as críticas e sempre foi "exemplo de decoro, delicadeza e educação". Ao final, porém, saudou FHC como presidente que "nunca condescendeu com o malfeito, jamais passou a mão na cabeça de aloprado e jamais buscou dividir o país", sob espanto dos petistas presentes. Para Fernando Henrique, o Brasil avançou muito, mas ainda tem pela frente o grande desafio de construir uma "sociedade mais decente", em que o desenvolvimento sustentável alcance todas as pessoas. Ao final, advertiu que não basta o acesso à educação e à saúde pública, é preciso qualificar os serviços e dar o salto de qualidade.
Herança bendita. Representante do PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que carimbou o legado da gestão FHC (1995-2002) de "herança maldita" ao assumir a Presidência em 2003, Maia admitiu que, nas eleições de 1994 e 1998, o "eleitor reconhecia em seu trabalho um homem comprometido com os interesses do País".
Também compareceram à homenagem o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Marta Suplicy (PT-SP), e o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). 





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Mamãe, coragem

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entrou em campo para articular a eleição da líder do PSB na Câmara, deputada Ana Arraes (PE), para a vaga do ministro Ubiratan Aguiar, que está prestes a se aposentar no Tribunal de Contas da União (TCU). Campos mobiliza velhos aliados da Câmara e governadores amigos, que já pedem votos para a líder do PSB — ela é sua mãe e foi a deputada mais votada da história de Pernambuco.


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A candidatura de Ana Arraes estava sendo articulada na base governista desde o começo da legislatura, mas foi atropelada pela movimentação da bancada do PT, que lançou o nome do deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), cujo padrinho é o governador da Bahia, Jaques Wagner.

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Campos e Wagner travam uma disputa por espaços em nível nacional, que mira as eleições de 2014 e de 2018. Ambos não poderão se reeleger e estão na linha de sucessão da presidente Dilma Rousseff. Representam também a velha rivalidade entre políticos pernambucanos e baianos pela liderança do Nordeste.

 Pulverização


A candidatura petista pulverizou os votos da base governista, com o surgimento de mais três concorrentes: o líder do PTB, Jovair Arantes (GO); Milton Monti (PR-SP); e Átila Lins (PMDB-AM). O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), cujo nome havia sido sugerido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não aceitou a missão. O líder da bancada do PT, Paulo Teixeira (foto), acredita na possibilidade de uma composição em torno de Carneiro. "A candidatura é pra valer. Vamos começar as conversas para unificar a base".

Liderança//


A presidente Dilma Rousseff deve anunciar hoje o novo líder do governo no Congresso. Apesar de os deputados Pepe Vargas (PT-RS) e Gilmar Machado (PT-MG) desejarem o posto, o nome mais cotado é mesmo o do peemedebista Mendes Ribeiro (RS).

Seguranças

Depois que teve o carro atingido por tiros no Rio de Janeiro, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) passou a circular com dois seguranças pelo Congresso. O ex-governador fluminense é um dos articuladores do movimento pela aprovação da PEC 300, que estabelece um piso nacional para policiais civis, militares e bombeiros.

Greve

Lideranças das forças de segurança de todo o país têm encontro marcado para a próxima terça-feira com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Vão dar um ultimato ao petista: caso a PEC 300 não entre na pauta de votação, prometem organizar uma greve nacional de policiais e bombeiros.

Parceria

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, destacou a conselheira Regiane Gonçalves para cursar, a partir de setembro, a sessão anual do Instituto de Altos Estudos de Defesa Nacional da França, que forma a elite dos quadros civis franceses no setor de defesa e estratégia. É a primeira vez que um diplomata brasileiro participa do curso.

A vez de Minas

Nos governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, foram nomeados para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quatro ministros do Rio de Janeiro, três de Santa Catarina e cinco de São Paulo. No mesmo período, nada menos que sete mineiros se aposentaram no STJ e nenhum magistrado do estado foi nomeado para o tribunal. Agora, um mineiro está entre os indicados à presidente Dilma para uma vaga no STJ: o desembargador Herbert José de Almeida Carneiro. A magistratura e a classe política de Minas estão unidas em torno de seu nome.

Cubanos

O presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB, Cezar Britto, discutiu com uma delegação de autoridades de Cuba que visita o Brasil o caso dos cinco cubanos presos há 13 anos nos Estados Unidos, um deles condenado a duas prisões perpétuas. Todos são acusados de espionagem. O embaixador de Cuba, Carlos Zamora, busca apoio para um requerimento de habeas corpus em tramitação na Justiça norte-americana e um pedido de indulto.

Propaganda

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou edital para a contratação de empresas de publicidade que prestarão serviços ao governo federal. O objetivo é contratar três companhias que se revezarão para gastar em campanhas publicitárias um montante de R$ 150 milhões

Passeio/ Depois das intensas negociações envolvendo a prorrogação dos restos a pagar e da votação do Regime Diferenciado de Contratações para as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), resolveu viajar para Portugal. O deputado José Guimarães (PT-CE) exercerá a liderança interinamente.

Comandante/ O ministro da defesa, Nelson Jobim, não poupa elogios à atuação do ex-deputado José Genoino (PT-SP), seu assessor especial na pasta. Como diria o Jamelão, o ex-guerrilheiro fica tão à vontade como "pinto no lixo" quando se reúne com os oficiais-generais.

Agenda/ Antes do recesso, o governo pretende aprovar na Câmara três projetos: a MP 528, que reajusta em 4,5% a tabela do Imposto de Renda; o projeto do Pronatec, que concede bolsas de estudo para escolas técnicas; e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A PEC 300 e a Emenda 29 estão fora de cogitação.

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