Seu confessor, Frei Raymundo de Pennaforte disse sobre ele: “tirava os dentes com a mais sutil ligeireza e ornava a boca de novos dentes, feitos por ele mesmo, que pareciam naturais”. Daí a sua popularidade que se estendeu ao Rio de Janeiro. Além disso, no tempo da Inconfidência, era sócio do padre Francisco Ferreira da Cunha, numa botica de assistência à pobreza na ponte do Rosário em Vila Rica ; entendia também das artes farmacêuticas. Foi mascate entre o Rio de Janeiro e Minas Novas. Em 1763, atua como tropeiro por conta própria até que perde sua tropa por haver defendido um escravo que estava sendo maltratado pelo seu proprietário. A justiça o condena e ele é obrigado a vender tudo que possuía. Sem recursos, alista-se na 6ª Companhia de Dragões do Regimento de Cavalaria Regular da Capitania de Minas Gerais, em 1775, licenciando-se em 1787, como alferes.
A Inconfidência Mineira, movimento liderado por Tiradentes, negava fidelidade a Portugal, era contra a “derrama” que permitia ao governo português confiscar ouro e bens da população mineira e cobrar altíssimas cotas de impostos. O principal objetivo dessa revolução era realmente buscar a liberdade e a independência do Brasil. Entre os inconfidentes estavam alguns devedores do Erário Régio, como o coronel Joaquim Silvério dos Reis que, em troca do perdão de sua vultosa dívida, delata o movimento.
Todos os movimentos liderados por Tiradentes a fim de libertar o Brasil o jugo português findaram-se com a delação, que o levou à prisão em 10 de maio de 1789, e a seguir, seus conjurados. Seu julgamento perdurou 3 anos.
Os inconfidentes foram encaminhados para o Rio de Janeiro. Em 18 de janeiro de 1790, Tiradentes assume toda a responsabilidade da conspiração: “Premeditei o levante, ideei tudo, sem que nenhuma outra pessoa me tenha movido ou inspirado coisa alguma.” Em 19 de abril de 1792, o Tribunal de Alçada lê a sentença da rainha D. Maria I, de Portugal.
Condenado à morte, no dia 21 de abril de 1792, Tiradentes subiu ao patíbulo do Largo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, com dignidade e sem sombra de medo, depois de percorrer em procissão as ruas engalanadas do centro da cidade.
Executado, esquartejaram-lhe o corpo e sua cabeça exposta no alto de um poste em Vila Rica.
Nos atos do Poder Legislativo, no artigo 1º, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é declarado o Patrono Cívico da Nação Brasileira pela Lei nº 4897 de 9 de dezembro de 1965, sendo decretado feriado nacional o dia do seu holocausto.
Lei 4897 (Arquivo Nacional - Gabinete da Direção Geral-RJ)
A seguir algumas datas compiladas por Rubens Barros de Azevedo - 2º Secretário da Academia Tiradentes de Odontologia (ATO) e Presidente da Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores (SBDE)
1783: (sem registro de dia e mês) - FATOS MARCANTES - Fora nomeado para governador da capitania de Minas Gerais, D. Luís da Cunha Meneses, muito arbitrário e violento. As jazidas de ouro em Minas Gerais começavam a se esgotar, fato não compreendido pela Coroa, que instituiu a cobrança da "Derrama" na região, desde 1751, uma taxação compulsória em que a população deveria completar a cota anual imposta por lei (100 arrobas de ouro = 1.500 quilos), quando esta não era atingida. Os brasileiros que encontravam ouro deviam pagar o quinto, ou seja, 20% (vinte por cento) de todo o ouro encontrado, que acabava nos cofres portugueses. Aqueles que eram pegos com ouro “ilegal” (sem ter pagado o imposto) sofriam pesadas penas, inclusive o degredo, sendo enviados à força para o território africano.
1785: (Idem) - Portugal decretou uma lei que proibia o funcionamento de indústrias fabris em território brasileiro.
1786: (Idem) - O ESTUDIOSO - A mando do governador da capitania de Vila Rica, Tiradentes fez brilhantes estudos demográficos, geográficos, geológicos, mineralógicos - tanto de aplicação civil quanto militar.
1787: (Idem) - INÍCIO DOS CONTATOS - O Alferes pediu licença de seu cargo e foi para o Rio de Janeiro, onde conversou com os comerciantes seus conhecidos sobre as ideias de independência. Lá encontrou o seu conterrâneo, Dr. José Alves Maciel, que acabava de chegar da Europa, empolgando-se com as suas ideias libertárias.
A FAMÍLIA: Embora Joaquim José nunca tenha se casado, teve 2 filhos: João, com a mulata Eugênia Joaquina da Silva, e Joaquina, com a ruiva Antônia Maria do Espírito Santo.
O PROJETISTA: Morou cerca de um ano no Rio, quando desenvolveu projetos de vulto como a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhoria do abastecimento de água da Capital, mas não obteve deferimento dos seus pedidos para execução dessas obras. Os projetos foram rejeitados pelo vice-rei, porém, aproveitados mais tarde por D. João VI, o que fez aumentar seu desejo de liberdade do domínio português.
1788: INÍCIO DA CONSPIRAÇÃO - Nosso herói voltou a Minas Gerais, onde pregou a liberdade e a independência por toda parte: nas estalagens onde ficava hospedado, nas fazendas, nas casas de prostituição, nas vendas, nas boticas e lojas, e mesmo no seio da tropa. Um grupo de intelectuais, fazendeiros, mineradores, militares e do clero se reuniu em Vila Rica , ora em casa de Contratador de Entradas, ora em casa do Comandante da Milícia, Francisco de Paula Freire de Andrada. Em uma reunião, o coronel Alvarenga Peixoto sugeriu que deveriam adotar o lema baseado nos versos de Virgílio (Públio Virgílio Maro, Poeta romano - 70-19 a.C) “Libertas quae sera tamem” (Liberdade, ainda que tardia) na bandeira da sonhada nova nação - hoje, adotado pelo Estado de Minas Gerais. A senha para deflagração do movimento seria “tal dia será o batizado...”, em alusão a uma festa de batizado realizada na casa do Padre Toledo, em outubro de 1788, onde se falou muito de uma insurreição.
FINALIDADE DO MOVIMENTO: A conspiração tinha por finalidade eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais, criando naquela Capitania um país livre. Na verdade, não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento não havia, ainda, uma identidade nacional. Mais tarde, após a vitória mineira, o plano era estender o Movimento ao Rio de Janeiro e, em seguida, às demais Capitanias.
1789: (Março) - A TRAIÇÃO - Tiradentes voltou ao Rio de Janeiro, onde foi preso, depois de denunciado pelo coronel Joaquim Silvério dos Reis, que sabia do seu paradeiro, pois fingia ser amigo e companheiro do nosso herói, acompanhando-o em sua fuga a mando do Governador de Minas Gerais. Silvério denunciou o movimento, em troca do perdão de suas dívidas para com a Coroa Portuguesa. Foi quando o Governador, Luís Antônio Furtado de Mendonça, visconde de Barbacena, suspendeu a derrama e ordenou a prisão dos insurretos.
A PRISÃO: Joaquim José, acusado de conspiração, foi recolhido à fortaleza da Ilha das Cobras, onde passou quase 03 anos encarcerado, e respondendo a longos interrogatórios; no início negou toda a trama, mas, depois de saber que todos (supostamente) já tinham confessado, assumiu toda a culpa, isentando seus companheiros.
OS OUTROS CONSPIRADORES: Dentre outros, destacavam-se os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga; os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes; os padres José da Silva e Oliveira Rolim e Carlos Corrêa de Toledo; o cônego Luís Vieira da Silva; o sargento-mor Luís Vaz de Toledo Pisa; o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto. Um deles, o Poeta Cláudio Manuel da Costa, faleceu na prisão, ainda em Vila Rica (hoje Ouro Preto), mas acredita-se que tenha Sid o assassinado, suspeitando-se que a mando do próprio Governador.
DESTINO DOS CONSPIRADORES: Todos foram detidos e também enviados para o Rio de Janeiro, onde responderam também a longo interrogatório pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei). Todos negaram a participação no Movimento, mas, diante das provas, foram condenados.
18.04.1792: A SENTENÇA - Nessa data, foi lida a sentença: condenação à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, por Decreto de D. Maria I, todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para degredo em colônias portuguesas da África.
21.04.1792 - há 217 anos: A EXECUÇÃO - Tiradentes foi executado em alto cadafalso erguido no Campo da Lampadosa (atual Praça Tiradentes, desde 1890), centro do Rio de Janeiro, às onze horas e vinte minutos, após grandes pompas e cortejo pelas principais ruas.
O ESQUARTEJAMENTO - Seu corpo foi esquartejado a machado, salgado e colocado em postes à beira das estradas de Minas Gerais (principalmente em Cebolas, Barbacena e Varginha do Lourenço, lugares onde fizera seus discursos revolucionários), para inibir qualquer tentativa do povo de fazer Movimentos idênticos. A cabeça foi reservada à praça principal de Vila Rica, diante da Câmara e do Palácio do governo (mais tarde, roubada e nunca mais recuperada...). Sua antiga residência, na Rua São José, foi demolida, o terreno salgado e erguido um padrão de ignomínia; sua descendência foi declarada infame até a 5ª geração.
OBSCURANTISMO: Logo após a Independência do Brasil, Tiradentes permaneceu historicamente obscuro durante o Império, pois os dois monarcas, D. Pedro I e D. Pedro II, pertenciam à linha da Casa de Bragança, sendo, respectivamente, neto e bisneto de D. Maria I, que decretou a sentença de morte de Joaquim José.
MAÇONARIA: Assim como aconteceu em vários outros episódios da nossa história, essa Organização também participou da Inconfidência Mineira, constando que a maioria (ou todos) os insurretos pertenciam à Ordem Maçônica. Naquela época, a maçonaria permitia que se fizessem iniciações fora dos templos por um irmão com autoridade para tal, o que era denominado de “Iniciação por Comunicação”, suprimida em 1907. E assim, consta que José Álvares Maciel iniciou Joaquim José da Silva Xavier, possivelmente no Arraial do Tijuco (hoje, Diamantina/MG). A própria bandeira do Estado de Minas Gerais foi inspirada na Maçonaria: o triângulo no centro da bandeira, com inclusão da já citada inscrição. É preciso lembrar que não há registros precisos sobre a atuação da Maçonaria nesse episódio, até porque a repressão portuguesa era intensa e os participantes não poderiam deixar documentos que os denunciasse, daí a imprecisão de fatos, datas, etc..
15.11.1889 - RESSURGIMENTO: Com a Proclamação da República, Tiradentes foi a personificação da sua identidade, tornando-se um mito, porque, até então, era considerado um “vilão”. Os novos governantes, Marechal Deodoro da Fonseca (Maçon) e Marechal Floriano Peixoto, precisavam criar um novo país, com novos valores, novas idéias, nova história e novos heróis, dos quais todas as pessoas deveriam se orgulhar.
FIGURA MÍTICA: Eis porque conhecemos a sua tradicional figura, de barba grande, cabelo comprido e camisolão, à beira do patíbulo, assemelhada a Jesus Cristo, mas pouco plausível, uma vez que, como militar, o máximo que lhe seria permitido era um discreto bigode. Depois, na prisão, onde passou os últimos três anos de sua vida, os detentos eram obrigados a fazer a barba e cortar os cabelos, a fim de evitar piolhos. Além disso, no momento da execução, todos os condenados à forca deveriam ter a cabeça e a barba raspadas, para que não interferissem no ato fatídico.
IDEAL A SER SEGUIDO: Nada, porém, será capaz de menosprezar ou diminuir a importância da trajetória do nosso Patrono, que tanto lutou para fazer do Brasil uma nação proporcional ao seu imenso território geográfico.
A ”FORTUNA”: É importante observar que a “fortuna” deixada por ele foi: um relógio de bolso e uma sacola com algum instrumental odontológico.
A HERANÇA Porém, a verdadeira herança que ele nos legou foi a sua obsessão pela justiça, pois deixou-nos a mensagem de que o seu sonho e de seus companheiros de ideal pode se tornar realidade. Lutemos por uma Nação sempre íntegra, moderna, livre, com o povo exercendo o seu pleno e consciente poder de cidadania, com a ótima qualidade de vida de que se faz merecedor.
Fontes: Prof. Olinto Rodrigues dos Santos Filho, do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural e do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (Cidade); www.pt.wikipedia.org; www.colegiosaofrancisco.com.br; Livro: “Sociedades Secretas” (A. Tenório de Albuquerque); www.infonet.com.br; www.geocities.com; http://www.portuguesmania.com/