sábado, 28 de agosto de 2010

PITACOS

Soninha Francine


Eu não sei se vocês perdem o sono com as eleições 2010, mas eu perco.

Perco porque trabalho das 9 às 2 da manhã todo dia – na campanha. E perco porque, quando finalmente posso me deitar, não consigo dormir.

De repente, todo mundo virou crítico de horário eleitoral gratuito – eu também, claro. Aliás, eu SOU de televisão, tenho mil idéias sobre como poderia ser. E sou política. E fui candidata.

Mas a gente faz da crítica ao programa de TV uma crítica ao candidato, à candidatura, e o pior, transforma isso num movimento de jogar a toalha que é INADMISSÍVEL.

Qual é o NOSSO projeto para o Brasil, então?? Se a estratégia de comunicação da campanha não for a que eu acho que devia ser, eu abandono o candidato?

A gente tem se comportado como aquele sujeito que acha que cidadania e participação política é reclamar e falar mal do governo. Cidadania é fazer escândalo pra ver se tapam o buraco na minha rua.

Qual é a NOSSA PARTE nessa marcha, nessa luta, nessa campanha? Como pessoa jurídica (PARTIDO) e pessoas físicas? Além de reclamar, criticar, o que nós estamos fazendo?

Eu fui candidata 3 vezes. Alguns aqui devem ter sido mais vezes, muitos certamente não foram nenhuma. Aos que não foram: vocês não têm IDEIA do que é ser o candidato. Do que é passar 100 dias exposto, lidando com gente, gente, gente, gente e gente de tudo quanto é jeito. Aliados, adversários, inimigos. Estrategistas políticos, experts em comunicação, palpiteiros. Interesseiros, verdadeiramente interessados, apaixonados. Ouvir duzentos mil conselhos por dia, muitos contraditórios entre si. “Fala mais nisso!”; “Não toca nesse assunto!”. E eu não sei o que é ser candidato com a RESPONSABILIDADE, a NECESSIDADE extrema, imperiosa, de VENCER. Na última eleição DA SUA VIDA.

E a gente fala aqui do Serra como se ele fosse um reles débil mental que está por aí fazendo besteira. Como se ele não estivesse fazendo um esforço sobre-humano para superar a nossa desunião, a desorganização, a ciumeira, a mágoa, a sabotagem etc. X a união deles, a disciplina sindical deles, o desespero de não sair do poder deles, o jogo sujo deles...

Não, não é os santos de cá contra os demônios de lá. Temos nossa cota de malas pesadas de carregar. Mas gente, o que é um deputado federal, dirigente de partido e líder de central sindical dizer no palco do 1º de maio para um milhão de pessoas “O Serra vai acabar com o décimo terceiro, as férias e a licença maternidade”? Escrever, passar email? O que é quebrarem sigilo fiscal a torto e direito, intimidarem dessa maneira? O que é pagar blogueiros para escreverem coisas hediondas a seu respeito, sem nenhuma consideração pela figura humana? O que é espalharem no interior do RN “Serra disse que o nordeste é o câncer do Brasil”? E agirem como o zagueiro que chuta o tornozelo do atacante o tempo todo, o tempo todo, e depois se joga no chão quando o atacante revida com um empurrão como se tivesse levado um tiro?

Serra tem um projeto de país. Serra que restaurar a República. Fechar a Casa da Mãe Joana. E eu digo, amigos, tivemos dois governos republicanos em São Paulo, na prefeitura e no estado. Serra quer uma política econômica que irva ao desenvolvimento do país, à redução da desigualdade, que incentive e o esforço e recompense a competência, que promova a inclusão e igualdade de oportunidades. Serra quer uma administração eficiente. Quer a progressão por mérito, a nomeação por capacidade. Quer os melhores quadros de cada partido, não os piores.

Mas projeto de país a gente realiza quando chega ao poder. E para chegar lá, tem de ganhar uma eleição. E não é o projeto político que ganha voto do povo, lamento informar. É um sonho, uma convicção, uma emoção, uma escolha racional, uma escolha intuitiva, o diabo. É a fé, a crença, a confiança. É a certeza de que aquela pessoa vai resolver o meu problema. É a esperança de que “agora vai, e parece que esse cara consegue”. É a decisão de votar em quem tá na frente. É a orientação do pastor, do padre, do patrão, do radialista da hora do almoço. É a sugestão da mulher. É tudo junto é tudo separado, tudo misturado.

O povo elegeu Collor, Fernando Henrique e Lula. Lula em 2006, depois de tudo! Sabe o que mais? Eu estava lá! Fiz campanha pra ele! Não queria o Alckmin presidente! Eu era PT, eu morria de vergonha de quase tudo no meu partido, mas eu votei no Lula! Por quê? Porque preferia ele ao Alckmin. Porque eu ODIAVA o Alckmin.

O povo de São Paulo elegeu Maluf deputado federal, DE NOVO. E Clodovil. Elegeu a Marta prefeita, derrotou a Marta duas vezes depois. Com Lula apoiando! O povo elegeu Garotinho e Rosinha Garotinho, que DESTRUÍRAM o Rio de Janeiro. O povo elege o Bolsonaro, deus que me perdoe.

O povo do Rio Grande do Sul vota Serra em peso, o povo do Amazonas não. No RS o Serra ganha, no AM perde de lavada. Um escândalo. E aí, como é que a musiquinha influencia nisso, para o bem ou para o mal?? A musiquinha ganha voto no Sul? Duvido. Perde voto no N? Acho que não. Ganha alguns? Talvez. Porque tem gente que vê o Serra pessoalmente e fala “como ele é simples!”, e talvez identifique o “Zé” com aquela pessoa que tirou uma foto com ele (e em um único evento, Serra tira mais de 300 fotos com as pessoas. Um assessor teve a paciência de contar em duas ocasiões. Foram mais de 300 fotos em um jantar da OAB. Depois foram mais de 300 fotos na Bienal do Livro). Outros talvez impliquem com o Zé e digam “Não vou votar nele não, que não gosto dessa história de chamar José de Zé” – embora seja meio maluco, não, alguém deixar de escolher seu presidente por causa disso? Mas aqui na lista parece até que tem gente a ponto de rasgar o título por causa da musiquinha.

O Serra tem vários compromissos por dia. TODO dia tá no meio do povo, de uma multidão. Vejam as fotos. Aliás, entrem no site, leiam, sugiram. Além do corpo-a-corpo, ele fala. 30 seg todo dia para o Jornal Nacional. Pensa que é trivial? Pensar, escolher, planejar, medir. Aí fala duas horas para industriais gaúchos. Fala 20 minutos na Associação de Jornais. Fala 45 minutos na rádio local. Fala meia hora no palanque. Tira mais 300 fotos. Entre uma coisa e outra, dá cinqüenta entrevistas. Responde às mesmas perguntas, ouve as mesmas provocações.

Entra no carro, no helicóptero, no avião e estuda. O que querem os pecuaristas de Santa Catarina? Qual é o problema número 1 do Tocantins? E fala no telefone com deus e o mundo. E lê os jornais e vê coisas terríveis. E abre os emails e só tem problema. Ouve mil sugestões e recomendações. E reclamações. E tem de sair do carro e dar 50 entrevistas e abraçar 200 pessoas e dar uma palestra para a Associação dos Exterminadores de Pragas.

Enquanto isso, a Dilma está em casa estudando. Faz uma caminhada de dez minutos e se recolhe. Tem um cordão de isolamento tão forte que só permite que o fotógrafo oficial da campanha chegue perto dela, mais nenhum. Não fala com os “populares” (porque as primeiras tentativas foram péssimas). Dilma vai a palcos e palanques, e só em situações bastante sob controle. Deixa de ir a MUITOS debates e sabatinas. Se preserva. Se resguarda. Ensaia, ensaia, ensaia. E tem a CUT, a Força, o MST, a Record, a Igreja Universal, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Petrobrás, o Ministério da Saúde, o presidente da República, o PMDB e o mundo ao seu lado.

Não é o Serra quem tem de carregar a campanha. Ele não é o Lula, que, aliás, disputou MUITAS eleições seguidas até chegar a sua vez. Sem o desgaste de ter exercido NENHUM cargo que o expusesse a críticas. Não é o Obama, negão carismático pós-Bush.  Não é o Collor bonitão. Não é o Maluf cara-de-pau. É a campanha quem tem de carregar o Serra. Somos nós, os eleitores. Mesmo que a gente não goste nada do programa eleitoral.

Faltam 40 dias para o primeiro turno. Não tem nenhum voto na urna ainda.

VAMOS. CHEGAR. LÁ.