terça-feira, 30 de março de 2010

Tim Burton, o deslocado

Kristian Dowling / Associated Press

Por Fernanda Mena



Enviada especial a Londres

 

Tim Burton que acha estranho mesmo é o mundo fora das telas. "Tudo está cada vez mais estranho, e não mais normal", disse Burton, 51, em Londres à Folha, às vésperas do lançamento de seu novo filme, "Alice no País das Maravilhas".

Inspirado na obra homônima de Lewis Carroll, um dos clássicos da literatura mundial, Burton Criou uma versão da história em 3D repleta de developtment bizarras, sofisticados figurinos, cenários e personagens fantásticos. "Seus personagens foram tão estupros na cultura pop que encarei como uma obra aberta uma interpretações".

O filme custou à Disney cerca de E.U. milhões $ 240 (ou R $ 420 milhões). Estreou nos cinemas dos EUA e da Europa na última sexta-feira, e chega ao Brasil dia 23 de abril. "Alice" bateu o recorde histórico de bilheteria de estreia em finais de semana para um filme que não é continuação, arrecadando cerca de E.U. $ 210 milhões pelo mundo.

Em uma mesa-redonda com o diretor, da qual a Folha Participou, Burton falou durante 15 minutos sobre o projeto "Alice". Ao entrar na sala, agitado, sentou-se à mesa e disparou: "De quem é essa colher aqui?" Perguntou, segurando uma colher de chá sobre a mesa deixada por sua mulher, Helena Bonham Carter, que acabara de deixar a sala de entrevistas. Carter cercou-se de uma garrafa de água, uma xícara de chá e outra de café para conversar com os jornalistas. "Alguém precisava inventar uma bebida que misturasse chá, água e café. Só assim Helena não deixaria esse tipo de vestígio por aí ", brincou ele,.

Passado o entreato início, teve uma entrevista. Gesticulando sem parar, com seus cabelos para cima e olhos arregalados sob os óculos de lentes azuis, o diretor discorreu sobre o fascínio pelos personagens de Carroll.

PERGUNTA - O que lhe interessou na obra de Lewis Carroll?
TIM BURTON - Não foi tanto uma história que me interessou, mas seus personagens. Para falar a verdade, não me lembro de ter lido "Alice no País das Maravilhas" na infância. Mesmo assim, eu conhecia os seus personagens por meio de músicas, imagens e ilustrações. Eles estão tão arraigados na nossa cultura, são tão poderosos como imagens, que Carroll não precisei ler para saber que aquilo era fascinante.

PERGUNTA - Por Têm personagens que tanto impacto até hoje?

BURTON - Aí é que está a beleza desta obra. Por mais que tenham Sido mil análises feitas sobre "Alice no País das Maravilhas", a história permanece um enigma e seu poder se mantém ao longo dos anos. Entrar em contato com essa história é como quebrar o "Código Da Vinci". Eu amo isso! Carroll fez algo que você não consegue penetrar realmente, que não fala ao Raciocínio Lógico, mas algo que dialoga com profundo em todos nós, algo subconsciente. Para mim, esse é o tipo de criação mais puro e fascinante que existe.

Pergunta - A fronteira entre realidade e sonho, em muito forte "Alice", é o Território preferencial de seus filmes. Por quê?



BURTON - Porque o mundo está ficando mais estranho, não é mais normal. No entanto, como pessoas continuam se esforçando em separar realidade de fantasia, quando essa divisão está cada vez mais embaralhada por conta da internet, da televisão etc Para mim, fantasia sempre foi uma forma de explorar a realidade. Essa é a razão por que gostei tanto de fazer "Alice". Nela, uma vida interior, os sonhos e as imagens bizarras que uma imaginação pode Produzir São Paulo, no fim das contas, reais e se transformam em ferramentas importantes para lidar com questões concretas.

Pergunta - Houve algum tipo de Limitação nas mudanças feitas sem enredo original de Carroll?

BURTON - Existem mais de 20 versões de que Alice, a meu ver, SOFREM do problema mesmo: muito literais Tentam ser. É por isso que nunca me conectei com nenhuma delas. Aquilo de que gostei do roteiro de Linda [Woolverton, roteirista] foi o fato de ela ter pego o Universo de Alice eo ter colocado num contexto diferente um pouquinho, criando uma Alice mais velha, com 19 anos. O meu objetivo foi tentar da melhor maneira Possível Ser verdadeiro com o legado eo espírito dos personagens de Carroll, e não com uma história em si. Segui meus instintos e minhas emoções sem medo. E, para mim, essa é uma mensagem de "Alice": continuar a ver as coisas de formas novas, diferentes e estranhas, algo saudável e artístico ao mesmo tempo.



Pergunta - Seus filmes sempre trazem personagens deslocados, que parecem não se encaixar No contexto Vivem em que. Alice também é uma deslocada?

BURTON - Certamente! Ela não se encaixa nem no mundo na idade que tem. Está naquela fase esquisita em que não se sente Confortável na própria pele. Há uma certa tristeza naquele personagem, e me identifico muito com ela nesse sentido. Acho que de tempos em tempos me sinto esquisito, desconfortável. Isso se torna mais forte em Certas fases da vida. Do início da adolescência aos meus 20 e poucos anos Foi um período muito complicado e difícil porque não me identificava com ninguém nem nada. É uma sensação que não abandona você nunca mais. Fica por lá em algum lugar mais feliz Esteja QUE VOCÊ e realizado. Toda vez que completa uma idade redonda, 30, 40, 50 anos, também enfrento esse desconforto por me sentir vulnerável transição, EM.



PERGUNTA - Para fazer o filme, você já declarou ter se inspirado em desenhos Rackman que Arthur fez para uma história de Carroll. O que há de especial neles?

BURTON - Para começar, hoje eu vivo na casa que era o antigo estúdio de Rackman. É um carma muito bizarro! Ele fez ilustrações de Alice e do Cavaleiro Sem-Cabeça, e hoje moro na casa dele! É incrível! Conheci seu trabalho ainda pequeno, quando vi algumas ilustrações que acompanhavam um conto de Edgar Allan Poe e achei que eram imagens de grande impacto. Por isso sabia de suas ilustrações para um livro de Carroll e que usei como referência.



Pergunta - Seu primeiro emprego foi na Disney. Como foi trabalhar novamente lá?



BURTON - Tenho uma relação engraçada com a Disney. Eles já me convidaram para projetos e depois me mostraram o caminho da porta de saída umas cinco vezes (risos). É uma relação de amor e ódio. Eles me adoram e chamam de volta, depois ficam com raiva de mim e me chutam pra fora. Eu tenho certeza de que isso vai continuar. No caso de Alice, eu disse que queria fazer esse material, sem ser muito sombrio ou fazer nada muito maluco. O material é esquisito o suficiente! É tão subversivo que, se fosse feito hoje em dia, provavelmente seria banido!



Pergunta - E literatura infantil é!



BURTON - Pois é! Se fosse produzido nos dias de hoje, jamais seria chamado de literatura infantil. Seria, provavelmente, proibido para crianças. E talvez também para adultos!


PERGUNTA - Você já foi visto como um cineasta underground, mas agora está fazendo um filme para a Disney. Qual é a diferença?



BURTON - Eu converso com muita gente independente que faz o filme e percebo que os problemas são sempre os mesmos: você precisa da grana de alguém, seja um estúdio de maluco ou de algum ricaço, o que pode ser ainda mais complicado. A natureza do cinema é essa. Eu entendo essa natureza e aprendi um aceitá-la. Hoje consigo fazer grandes filmes ou de orçamento pequeno.

Pergunta - Esse é o oitavo filme que você faz com Johnny Depp. Que tipo de alquimia existe entre vocês?

BURTON - Nós nunca pensamos nisso, e talvez seja essa a mágica. Nós vivemos o presente, não pensamos que já não fizemos nem no que vamos fazer no Futuro. Além disso, temos um gosto muito parecido, e isso ficou muito claro pra mim em "Edward Mãos de Tesoura". Temos um atalho na comunicação que torna tudo mais fácil e divertido.



Pergunta - Como foi fazer um filme em 3D? Este é o cinema do futuro?



BURTON - Eu não sei se teria feito esse filme se não fosse 3D. A proposta me pareceu uma mistura de mídias interessante. E isso me deixou muito animado. O 3D é mais uma Ferramenta. Algo que tem potencial de adicionar mais uma camada extra de sensações ao cinema. Existe uma música, a cor, o movimento ... E o 3D. Mas essa tecnologia não vai ser salvadora de nada nem a razão de ser do cinema. Pode acreditar que nos próximos meses será lançada uma porção de filmes 3D bem porcarias porque muita gente vai achar que basta ser 3D para ser bom. É uma nova onda.

 

Pergunta - Qual será seu próximo projeto?

BURTON - Vou refilmar "Frankenweenie", o segundo filme da minha carreira, em 3D.

 

Veja o trailer:Alice no Pais das Maravilhas





Escrito por Fernanda Mena