sábado, 1 de maio de 2010

Arnaldo Jardim: 1º de Maio


Às vésperas do Dia Internacional do Trabalho, o Governo Federal anunciou que deverão ser criados dois milhões de empregos este ano. Mais uma bravata eleitoral, descolada da realidade, afinal este governo foi incapaz de gerar empregos suficientes para um enorme contingente de pessoas e ficou longe dos “10 milhões” alardeados. Por falta de oportunidades e qualificação, milhões veem fechadas oportunidades de trabalho regular, não conseguem se qualificar adequadamente e, assim, nossa força de trabalho não atende as áreas mais dinâmicas da economia.
Resultado desta equação perversa: milhões de trabalhadores, muitos deles jovens, estarão condenados a viver de “bicos”.
Foi o que revelou o estudo “Emprego e oferta qualificada de mão de obra no Brasil – Impactos do crescimento econômico pós-crise”, elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). No universo de 24,8 milhões de brasileiros aptos para o mercado de trabalho, 5,5 milhões sem qualificação profissional terão enormes dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Outros 635 mil profissionais, experientes e com qualificação, também terão dificuldades para encontrar empregos neste ano, pois as empresas em que trabalhavam fecharam postos de trabalho por conta da crise mundial e ainda não estão dispostas á reabri-lo.
Todavia, setores nos quais a retomada do crescimento será mais intensa já sentem a escassez de mão de obra qualificada. Entre eles, estão o da construção civil, o comércio e a hotelaria, que terão dificuldades para encontrar profissionais aptos a preencher as vagas que serão criadas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Em todo o País, nos setores de educação, saúde e serviços sociais faltarão 50 mil profissionais; no de hotelaria e restaurantes, o déficit deverá ser de 28,5 mil trabalhadores.
Isso decorre de uma nova realidade do mercado de trabalho, o que coloca a capacidade do governo e do setor privado de entender as mudanças de perfil dos trabalhadores mais requisitados e de preparar a mão de obra exigida pelos novos tempos.
Engenheiro civil (Poli/USP), faço uso do setor da construção civil para demonstrar essa mudança de paradigmas. Tradicionalmente, o treinamento dos trabalhadores era feito na própria obra, com os profissionais mais experientes ajudando e ensinando os recém-chegados. Com a chegada de novas tecnologias, materiais e processos construtivos mais eficientes, esse tipo de educação “informal” se tornou obsoleta diante da forte demanda.
Recaímos, então, nos gargalos e mazelas que persistem em assolar o País: a qualidade do ensino oferecido à população e a conseqüente falta de mão-de-obra qualificada. Nos falta, justamente, um Projeto Nacional de Desenvolvimento, capaz de nos preparar para o crescimento nos próximos anos.
No PPS, levantei a bandeira do período integral na educação básica (de 1ª a 4ª série) e reforcei a necessidade de investir na municipalização do ensino fundamental, na valorização do magistério, no combate ao analfabetismo e a evasão escolar, além de garantir a profissionalização dos alunos, melhorando o conteúdo e a qualidade no aprendizado.
Em São Paulo, destaco o empenho do Governo Estadual em ampliar o ensino técnico para aumentar a participação dos jovens no mercado de trabalho. Neste sentido, saúdo o trabalho desenvolvido pelo Centro Paula Souza, que administra 186 Escolas Técnicas (Etecs) e 49 Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais, em 148 municípios. As Etecs atendem mais de 180 mil estudantes no Ensino Médio e no Ensino Técnico, para os setores Industrial, Agropecuário e de Serviços, em 91 cursos técnicos. Já nas 49 Fatecs, cerca de 40 mil alunos estão matriculados nos 47 cursos de graduação tecnológica.
O Brasil vive um momento especial de sua história, pelas riquezas que devem emergir com a exploração do Pré-sal, a realização da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, além de usufruir da estabilidade econômica e de contas externas equilibradas. Segundo o Serviço de Aprendizagem Industrial – Senai, vamos precisar qualificar três milhões de trabalhadores por ano durante os próximos cinco anos, incluindo formação inicial para novas vagas e a continuada para quem já está no mercado de trabalho. O desafio está posto, cabe agora, aos postulantes à Presidência da República, apresentar a sociedade um projeto de nação com ênfase na educação e especificamente educação para o trabalho capaz de evitar que milhões de trabalhadores sejam condenados às margens da economia formal.