domingo, 19 de outubro de 2008

Política partidária x juventude


Arthur Conceição
http://www.parana-online.com.br

Lamentavelmente, a juventude brasileira se afasta cada dia mais da política partidária e de entidades que tratam sobre temas de relevância da política nacional, sejam elas associações de estudantes, sejam de bairro ou qualquer outra que tenha finalidade de se posicionar quanto à política vigente do País. Atualmente, temos 12,3 milhões de filiados em partidos no Brasil num total de 124 milhões de votantes, sendo que apenas 575 mil jovens na faixa de idade 16 a 24 anos estão filiados alguma agremiação partidária. Portanto, essa faixa etária de filiados corresponde por apenas 4,7% daqueles que têm alguma inscrição de filiação política. Para podermos fazer um comparativo sobre a participação de jovens no processo político nacional, devemos levar em conta os dados do primeiro voto que foi liberado em 1992. Nesse ano, estavam registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 3,2 milhões de votantes. Hoje temos apenas 2,2 milhões desses aptos a votar, qual corresponde a uma redução de 31,1%. Precisamos colocar na balança que a população da faixa dos 16 a 18 anos aumentou em 19%, segundo os dados do IBGE.

A grande culpa na diminuição da participação dos jovens no contexto da política nacional é dos próprios partidos políticos, que não possuem nenhum programa para estimular a juventude a assumir cargos internos nas siglas partidárias. Os que participam mais intensamente são parentes de políticos que dominam e repelem uma participação mais popular e democrática de pessoas estranhas ao quadro histórico da agremiação. Essa grave situação reflete nas câmaras municipais e nos parlamentos estaduais. Estamos criando um círculo vicioso que rompe com toda uma cultura política de participação popular. No colégio e nas faculdades, não existem atividades que tratem de assuntos sobre a história dos partidos políticos. Hoje, falar qualquer assunto sobre agremiações partidárias perante a sociedade civil não soa muito bem, e só nos traz lembranças de corrupção. O que está encravado na nossa sociedade é uma verdadeira apatia sobre o assunto referente a política partidária. Mas a sociedade brasileira não pode esquecer que o caminho para a conquista do poder depende dos partidos políticos, pois eles são instrumentos de fato para o exercício da democracia representativa.

Se os partidos não forem capazes de perceber que não devem somente disputar o poder, e sim procurar ser parte de um todo, vamos perder o trem da história. Eles possuem um papel fundamental para a organização social. É inconcebível negar o poder de fogo dos partidos perante questões ideológicas e de mobilização. O grande mal é que seus dirigentes não estão aperfeiçoando uma linguagem e um comportamento mais globalizado de suas atividades. Ainda são usados métodos e comportamentos antigos de manipulação que a sociedade não atura mais. Os partidos não representam mais a vontade das comunidades e do povo em geral. São dominados por grupos econômicos que sustentam currais de velhos políticos, do qual há anos estão no poder e não aceitam mudanças. O exercício da liderança não deve homogeneizar o sonho e nem diluir as diferenças. Todas as comunidades e, principalmente seus filiados, não têm espaço de sonhar diversificadamente, devido à certas imposições que não unem e nem aproximam as pessoas.

A cada ano que passa as agremiações partidárias estão deixando de falar a língua da sociedade e só defendem o interesse de uma minoria para o bem de um grupo dominante. Nas atuais proporções do problema que enfrentamos é necessária uma reforma política urgente quanto à organização das agremiações partidárias. O que o TSE está fazendo quanto as regulamentações e julgamentos, de fato exerce diretamente a atividade legislativa. Não vemos punições aos partidos que, de certa forma, brincam e manipulam a sociedade com o jogo de poder. Todos esses fatores influenciam nos movimentos sociais quanto à participação da juventude. Criamos uma simbiose de apatia pela política nacional, deixando os lobos cuidarem dos cordeiros. Não devemos culpar o jovem, e sim o sistema que não lhe proporciona caminhos para participar de atividades políticas partidárias ou de outras que envolvam política.

Os orkuts da vida, as salas de bate-papo e demais ferramentas cibernéticas passam a ser mais interessante do que discutir política. Mas nada deve ser comparado à prática e à vivência comunitária voltada as atividades sociopolítica. Hoje, devido à forte influência dos viciados e contaminados partidos políticos, o movimento estudantil perdeu sua essência quanto à luta, e da mesma forma estão alguns sindicatos e outros setores do movimento social.

A última pesquisa divulgada sobre o comportamento político encomendada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que foi realizado pelo Instituto Vox Populi, os entrevistados concordam que 82% dos políticos não cumprem as suas promessas de campanha e 85% afirmaram acreditar que a política beneficia apenas os políticos, e não o povo. Portanto, isso prova que não temos um programa de partido e sim personalista e a vontade dos filiados não prevalece na pauta destes políticos. A pesquisa foi realizada em todo o Brasil com pessoas a partir de 16 anos. Se não acontecer de vez uma reforma partidária num futuro bem próximo, abriremos brechas para pessoas mal-intencionadas buscarem o poder, como aconteceu nessa eleições municipais.

Arthur Conceição é cientista político, jornalista e articulista da revista Bem Público.